O Brasil é um país de cultura extremamente rica, diversa e multifacetada. Sua dinâmica e vivacidade encontram paralelo quase perfeito no setor social – igualmente pujante, inovador e admirado em todo o mundo. Unindo essas duas vertentes, a Lei Rouanet serve de altar para celebrar muitos belos casamentos, fazendo da arte um veículo poderoso para o desenvolvimento humano e social.
Para as empresas que adotam a pauta ESG, que fazem investimento social e já acompanham essa trilha – que não é nova – da sustentabilidade empresarial, fazer bom uso do seu imposto e financiar ações educativas nas comunidades, favelas e periferias do país é uma ótima oportunidade para participar do jogo de ganha-ganha-ganha: empresa, governo e sociedade.
Mas até esse investimento precisa ser criterioso e estratégico para gerar os melhores resultados em ganhos de reputação e imagem, além de maximizar o retorno social.
Projetos de educação musical, por exemplo, se destacam como aqueles que melhor conseguem alinhar estes eixos.
Dados da plataforma Salic, do Ministério da Cultura, indica haver quase 2 mil empresas investindo em projetos de educação e/ou de música nos últimos 5 anos no país. São centenas de iniciativas espalhadas por todo o território nacional promovendo o ensino de diversas linguagens, estilos e instrumentos.
Contudo, a pesquisa ‘Mapeamento de Projetos de Educação Musical’ conseguiu identificar e entrevistar 247 representantes destas iniciativas em andamento no Brasil. Entre seus achados mais relevantes, está o fato de que cerca de 72% “não medem os resultados de suas atividades”. Este percentual é muito semelhante a outro com foco temático mais abrangente.
É o caso do ‘Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental’, que aponta que, segundo 2.187 líderes do setor, 73% ainda “não acompanham de maneira formal e disciplinada os indicadores de impacto de seus projetos”.
Que ninguém se engane: há uma hierarquia de bons projetos em meio ao universo das boas ações sociais. E no topo estão aqueles que investem no monitoramento e na avaliação do seu impacto.
Um bom exemplo desta prática é o projeto Escolas de Música e Cidadania, promovido pela Agência do Bem, uma entidade sem fins lucrativos com quase 20 anos de história, sediada no Rio de Janeiro, e com dezenas de polos de ensino espalhados pelas cinco regiões do país, em: São Paulo, em Santa Catarina, no Distrito Federal, na Bahia, no Ceará e no Amazonas.
É o primeiro e único do gênero Certificado com Tecnologia Social, já em processo de expansão internacional, presente na Europa e, em breve, na África.
Segundo seus gestores, a instituição percorreu um laborioso percurso de amadurecimento da sua metodologia. Questionados sobre os benefícios do projeto para seus alunos, rejeitam o lugar comum e vago do “aumento da autoestima”.
Nas primeiras pesquisas com seus alunos, foi constatado que: 91% afirmavam ter interesse em permanecer estudando música no projeto nos anos seguintes; 58% afirmaram que o estudo da música contribuía para o aumento de sua concentração na escola regular; 60% sentiam-se mais responsáveis com suas obrigações e compromissos diários; e 97% afirmavam que se sentiam felizes ao participar da Agência do Bem.
Apesar dos bons resultados, seguiram investindo no aperfeiçoamento dos seus indicadores. E, considerando que a instituição atua em territórios favelizados, em áreas de alta vulnerabilidade social, nas quais a população infanto-juvenil é vítima cotidiana de todo tipo de violência, definiram por verificar 3 critérios:
- Progressão escolar, tendo como seu oposto indicador negativo a repetência ou a evasão da escola regular;
- A ocorrência de gravidez na adolescência, seja para jovens meninas-mães ou meninos-pais; e
- Cometimento de ato infracional, que significa o envolvimento com atos ilícitos ou criminosos pelos adolescentes.
O procedimento foi aplicado a 930 alunos das Escolas de Música e Cidadania. O que se constatou, comparando-se aos parâmetros estatísticos nacionais, foi que: um aluno do projeto tem 9 vezes menos chances de repetência escolar, 53 vezes menos chance de gerar uma gravidez na adolescência e índice zero de cometimento de ato infracional.
A comparação estatística se deu ao se confrontar a incidência destas ocorrências entre os alunos da instituição com os dados constantes de pesquisas e estudos oficiais do IBGE, Ipea, DataSus, do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e do Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Essa abordagem se mostrou tão inovadora no segmento que a Agência do Bem posicionou-se na vanguarda da educação musical em projetos sociais no Brasil. Nos anos que se seguiram, foi convidada a ser coorganizadora de duas edições nacionais da ‘Bienal Música e Cidadania’, promovida pela Funarte – Fundação Nacional das Artes, do Ministério da Cultura, contribuindo com o planejamento e curadoria dos painéis.
Em seguida, a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro promoveu uma série de eventos formativos tendo a Agência do Bem como protagonista da edição que versou sobre avaliação de resultados de projetos socioculturais.
Em números, estes avanços representaram a perspectiva de duplicação dos seus polos de ensino, chegando a 56 em 2027, e da garantia de contratos da ordem de 30 milhões de reais em patrocínios no mesmo período, dentre eles o da Petrobras, a maior empresa e maior investidora em projetos do gênero no Brasil.
Mas, não apenas, neste time de financiadores também constam: Nubank, Klabin, Merck, Protege, Unimed, entre outras grandes marcas.
Utilizar as leis de incentivo à cultura é ótimo. Direcionar estes recursos para projetos educativos, com qualidade na gestão e que comprovam o seu impacto social é melhor ainda.